quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Epona e a Mulher-Loba




Quando uma mulher se sente insegura, perdida, se questiona sobre o seu lugar, ouvem-se os seus cascos pela terra. Quando a mulher sente uma dor que não consegue curar, ouve-se o seu relinchar. 
Raras dizem tê-la visto na encruzilhada... Porém muitas a ouvem, muitas a chamam, para fugir, mas o que não sabem é que essa fuga as levará ao mesmo lugar, tantas vezes quantas forem necessárias, para que se questionem, sobre o seu lugar, a sua entrega, as suas certezas, o seu caminho.

Diz a lenda que ela apareceu com uma mulher-loba.

A mulher-loba, selvagem, amazona, na solidão da floresta, sentia um vazio no seu peito por se apaixonar por tudo o que se desvanecia. A paixão atravessava-a, mas não ficava, não se transformava. Certa noite, ela desejou fortemente que a paixão chegasse para que a pudesse agarrar e fazê-la permanecer, florescendo em Amor. E assim foi, a paixão chegou, ela sentiu-se crescer, crescer, crescer...sentiu-se abrir, rasgar... a sua pele caía em pedaços, o seu coração batia tanto que ela se sentia morrer, queria gritar, mas a sua voz falhava... o que aproximava o Amor da Morte estava a manifestar-se em si, mas ela não queria perder a sua liberdade, a sua identidade, não queria se dissolver e por isso chamou a sua égua para que ficasse perto de si, sempre. 

Sempre que se sentisse morrer ela tinha a certeza que podia fugir e assim, as dores passavam... Um dia, ao fazer amor com o seu amado, ela sentiu tanto medo de que a dissolução estivesse perto, que chamou Epona e fugiu para as florestas...mas o seu desejo tinha sido tão forte, que Epona a trouxe de volta, vezes sem conta.

A mulher-loba acordou numa noite com a lua iluminando o seu rosto e o do seu amado e soube que era o momento. Os seus olhos cruzaram-se tão profundamente que as suas almas se tocaram, os seus corpos se fundiram num só corpo que ondulava e rebentava, abrindo-se como o oceano, os seus corações batiam num uníssono com o coração da Terra. 

Nesta rendição, dois corpos sagrados resnasceram e partiram unidos para novas paragens.

Epona permaneceu. Hoje ouvem-se os seus cascos, o seu relinchar... E quando uma mulher decide fugir à entrega total em nome da sua aparente liberdade ou individualidade, ela leva-a por caminhos tortuosos e trá-la de volta, até que ela possa aprender a lição da rendição ao sagrado masculino, como mulher sagrada e completa.

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