quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Na floresta quase mágica (segunda parte)


Fern segurava aquela pequena criatura com todas as suas forças e pensava:

Tão curto é já o meu destino e tão curta a tua existência... que poderei ser eu para ti pequena Indrin, agora que estás sozinha no mundo?

Depois de salvar a pequena menina procurou quem reconhecesse aquela família, isolada no meio da floresta, que deixou ao mundo aquele pequeno ser indefeso, uma pequena fada perdida no fogo.

Nada! Nem uma alma perdida sabia as suas origens.

Para trás ficava a tragédia daquela casa queimada, vidas perdidas...

Na sua sossegada vivência já se acostumava aos sorrisos cristalinos de Indrin, à sua presença pura que gritava silenciosamente pelo seu afecto.

Indrin era uma menina de olhos de mel e cabelo de fogo, doce e curiosa. Ficava horas embebida nos afazeres de Fern. Sentada no seu banco de tronco de carvalho observava cada movimento da anciã com devoção.

O tempo foi passando naquela cabana perdida no meio daquela floresta quase mágica...

Horas, dias, semanas, lua após lua, estação após estação o coração de Fern sossegava, não estava só no mundo, assim como Indrin contava com protecção maternal da velha feiticeira.

Sabia que o fio da sua vida não era longo o suficiente para a acompanhar. O seu cabelo negro, há muito se tinha tornado num manto branco, como neve, as suas forças não respondiam como antes, mas algo a mantinha viva: Indrin. 

Os seus dias eram passados a reconhecer, colher, secar e usar ervas; acender o fogo sagrado de Brigid; cozinhar; fiar, tecer e costurar; aprender o céu, os seus Astros, as conjunções, o que cada uma significava, as suas conjunturas e que feitiços poderiam ser feitos quando...

Indrin ouvia-a falar atentamente como se absorvesse toda aquela sabedoria. Porém, tinha apenas 20 estações. Como podia uma criança tão pequena aprender tudo aquilo, não era possível, mas o tempo a prática e a repetição iriam ajudá-la, dizia Fern para si mesma.

Certa noite, perdida no tempo, como todas as outras noites, no meia daquela Floresta Quase Mágica, Indrin acordou com um riso. Era um riso agudo e não parecia ser da séria e composta Fern. Quem seria? De onde viria? Qual a razão daquele riso?

O riso parou por uns momentos, fechou os olhos e o riso voltou, desta vez mais perto...

Quando abriu os olhos viu uma luz a flutuar ao pé de si, era dali que provinha aquele riso. Não sentia medo, na sua mente ainda sonolenta só conseguia pensar: Porque se ri? Parece que lhe contaram uma piada!

A resposta foi inesperada, mas imediata, uma voz aguda, distante, mas situada bem à frente do seu pequeno nariz:

- Mexes as orelhas quando dormes, como as fadas!

Humm?

O que tinha acabado de ouvir, pensava Fern...uma voz quase sumida no ar a escarnecer das suas pequeninas orelhas pontiagudas, sem qualquer pintinha de vergonha! Malvada!

-Quem és tu? Ou devo dizer o que és tu? E porque me vens incomodar as orelhas enquanto repouso os meus olhos, sem te apresentares sequer?

-Calma muy nobre princesa Indrin, não quero ofendê-la! Sou a Boon, a fada dos sonhos. Ias ter um pesadelo e por isso vim acordar-te para dares um passeio comigo. Queres vir?

-Eu não sou princesa, para começar esta conversa imaginária dos meus sonhos. Se ia ter um pesadelo devias deixar-me tê-lo e não vou a lado nenhum com uma luz pirilampo de se ri das minhas orelhas enquanto durmo! - responde Indrin

-Já estou a ver que mais uma vez me tocou uma refilona! Devem pensar que eu tenho a paciência dos entes para vos aturar... Se não quiseres vir não vens...eu vou andando sozinha.

E Boon, lá foi flutuando em direcção à janela. Indrin, muito indignada pergunta:

-E como sabes tu o meu nome?

Boon presunçosamente responde:

-As fadas sabem tudo.

-E Boon Sabe-Tudo, diz-me onde me queres levar? - questiona Indrin.

-Quando lá chegares vês - responde Boon.

Indrin intrigada e curiosa com as palavras daquele ser mágico que a impelia a segui-la deu por si a sair da cama e a caminha na sua direcção, até que lhe pergunta:

- Como vou eu sair, não consigo saltar a janela!

Com uma risada, só sua, Boon responde-lhe:

-Como sabes se não arriscaste?

E ao olhar para os seus próprios pés descobertos, Indrin percebeu que estes não tocavam o solo... Estava a voar, tal como Boon. Num impulso aquela luzinha brilhante janela fora, Floresta dentro rumo à aventura...

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